domingo, 6 de janeiro de 2008

Ainda dá tempo de instalar uma “porteira”

Blog Carlos Damião ; 6/1/2008

Lembro-me de inúmeros debates sobre a questão de se instalar uma "porteira" na Ponte Pedro Ivo Campos, com a determinação, para os guardiões, de só permitirem a entrada na Ilha de Santa Catarina de pessoas autorizadas. Se isso fosse possível, em tempos idos, teríamos conseguido salvar a ilha? É claro que não.
Trata-se, e sabemos disso, de uma possibilidade fantasiosa.
Mas a "porteira" na verdade era bem uma outra coisa, como já observaram aqui inúmeros leitores, alguns deles fundamentados em critérios técnicos indiscutíveis.
O nome da porteira é Plano Diretor. Tivéssemos, há 30 anos, elaborado um Plano Diretor digno da importância de Florianópolis – sob os pontos de vista ambiental, cultural, histórico e social – não teríamos comprometido a qualidade de vida na ilha ao ponto em que chegamos. O pior é que as pessoas que vêm se instalando por aqui não têm qualquer pudor em continuar destruindo o pouco que resta do paraíso. Elas têm culpa, sim, mas os maiores culpados somos nós, que não demos ouvidos ao então governador Colombo Salles (o "melhor prefeito" que Florianópolis já teve) e a inúmeros estudiosos, inclusive os mais conservadores, como o professor e arquiteto Luiz Felipe da Gama Lobo d'Eça. Apesar de especializado em portos e canais, o engenheiro Colombo trabalhou na construção de Brasília. Conhecimento, portanto, ele tinha e tem sobre como administrar uma cidade.
Nós, florianopolitanos, demos ouvidos a políticos, inúmeros políticos que passaram pela Câmara de Vereadores e que, no ímpeto de garantir seus currais eleitorais, foram remendando e remendando a colcha de retalhos que é, ainda hoje, o Plano Diretor da cidade. Não só isso: alguns vereadores do passado foram responsáveis por grandes prejuízos à cidade. Querem nomes? Valdemar da Silva Filho (Caruso), já falecido, muito idolatrado pelos ilhéus, foi quem comandou o movimento contra a urbanização do Aterro da Baía Sul. O projeto era do consagrado urbanista Burle Marx, prevendo amplas áreas de lazer, muita vegetação e um centro administrativo que concentraria todas as atividades governamentais, tanto do Estado quanto do município. O aterro virou lixo, esgoto, crackódromo, trepódromo e estacionamento de ônibus, perdendo a função social e cultural que foi desenhada pelo urbanista, a pedido do então governador Colombo Machado Salles. Aliás, o projeto original está nos arquivos de Colombo. Eu vi. O prefeito e o presidente da Câmara de Florianópolis bem que podiam dar uma espiadinha...
Mas, voltando à "porteira": será tarde para que nossas autoridades façam alguma coisa? Acreditamos que não. Há inúmeros vereadores da atual legislatura preocupados com o futuro de Florianópolis, principalmente depois do choque de realidade provocado pela Operação Moeda Verde. O Plano Diretor Participativo continua em elaboração e deve ficar pronto este ano. Talvez seja uma luz no fim do túnel, embora possa merecer, ainda muitas discussões.

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